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PARENTALIDADE: DESEJO OU IMPOSIÇÃO SOCIAL?



Você chegou aos 30 e eu aposto que alguém já te perguntou quando terá filhos.

[risos]

Na minha época era na casa dos 20...

O povo quer que a gente tenha filho.

Parece que encarar a parentalidade é uma obrigação e não opção.

Parece que só quem é pai ou mãe é valorizado, conta com a aprovação social.

Diferente do que ocorre com a não parentalidade.


Me lembro várias histórias com amigos em que outras pessoas desvalidam o ser só pelo fato dele(a) não ser pai ou mãe.

Ser pai/mãe, muitas vezes, é suficiente não só para validar o ser, mas o caráter e o que se constrói enquanto projeto de vida como se a parentalidade te desse um aval de bom, de suficiente. E não é.


A pressão social leva ao fenômeno da parentalidade compulsória.

à Conjunto de práticas que levam as pessoas a ser tornarem ou desejam ser pais sem que isso de fato represente uma escolha.


Parece que ter filhos é cumprir o papel da vida, viver em paz, estar completo, pois sem filhos são seres imperfeitos.

Pior de tudo, tem que ser biológicos. (não quero nem entrar no mérito)

Ah... quem disse que ter filhos é ter paz?

Filho é paz?

Filho é furacão, é tempestade.

Você não sabe de onde vem aquela força da natureza, perde a noção do tempo e do espaço.

Filho é turbilhão.

Turbilhão de ideias, de bagunça, de afazeres, de grana...

Você se sente sozinho mesmo acompanhado. Tudo vira uma bagunça. Seu tempo, sua casa, seu corpo, suas coisas, tudo.


Ato valoroso?

Hoje num mundo onde as pessoas são capazes de bastar a si mesmas a sociedade deveria poder bastar-se também.


Bastar-se de respeito nas decisões dos outros.

Respeitar de que nós mesmos nos completamos e que não falta nada se assim o julgamos.


A própria identidade feminina se baseia na maternidade.

A imagem da mulher feminina ou mais feminina é a da “mulher grávida”, falei isso no TCC da minha última pós-graduação: É preciso ser feminina para gestar? O que é ser feminino? É tudo tão distorcido!

A identidade do masculino é a paternidade, do pai-herói, que veste capa, que salva o filho.

Aquele que transmite segurança e proteção.


Devemos ceder aos “encantos” da sociedade?

A maternidade se torna compulsória quando é tão naturalizada que sequer a questionamos.

Quando eu posterguei a maternidade e cansada de responder aos diversos questionamentos dizia que não teria filhos, eu era bombardeada com mais e mais perguntas e censuras.

Muitas vezes, confesso, cheguei a dizer que eu não podia ter filhos. Por mais que por dentro eu me justificasse que eu não podia ter naquele momento de vida, eu deixava a pessoa a entender que era uma questão biológica minha (ou do meu marido).

Nós dois com o nosso filho recém-nascido em 2016

Era como se fosse proibido não querer ter filhos.


Meu marido dizia: "A gente vai ter filho porque todo casal 'precisa' de filho."

Será?

Bom, tivemos o nosso.

Compulsoriamente?

Já não sei te responder (ainda, preciso de mais tempo de terapia)



Como mãe me sinto pensativa. Somos tão cobradas a alcançar expectativas idealizadas.

E, assim como eu disse no começo, quem não é pai ou mãe são discriminados e "menos merecedores" de redes de apoio, "menos comprometidos" com o que fazem. Será?


O que quero dizer com tudo isso?

É que as pessoas têm o direito a não querer ter filho.

E ninguém tem nada a ver com isso.

Vão se arrepender?

Talvez.

Talvez elas também se arrependam de ter filhos.

Só vão saber se o fizerem.


Mas se tornarem pai e mãe é uma decisão que só cabe a elas próprias.

É o amor mais lindo do mundo?

Sim, é.

Mas ninguém tem que nada.

Cada um sabe da sua vida, das suas escolhas, dos seus momentos, do que quer pra si.

Filho não vem só com amor, vem com muita renúncia, muita mesmo e que nem sempre a gente quer ou está preparado para viver.


Deixem as pessoas decidirem pelas próprias vidas e não as julguem por isso.

Talvez você quisesse ter a coragem que ele(a) está tendo.


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